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Em 2018 fiz o prova curta do Trail da Costa Vicentina ainda com as pernas bambas da maratona da semana anterior apenas por não querer faltar a uma prova que me dizia muito, por se disputar no litoral alentejano por vários locais da minha infância. Mas assumi nessa hora que este ano estaria no Cercal, na linha de partida para o Trail Médio.

Tive por isso de abdicar da Maratona de Lisboa e trocá-la levianamente pela Maratona do Porto, mas assegurei que não faltava a este trail. A minha família é do Cercal e na infância passei longas férias de Verão em casa da minha avó. Quando descobri que o percurso deste Trail Médio passava à porta dessa casa da minha infância, decidi que tinha de o fazer pelo menos uma vez. Assim, em março já andava a teclar o meu nome nas inscrições e a pagar a referência no multibanco. Esta era uma certeza.

No entanto, à medida que os meses passaram, este significativo projeto pessoal foi-se transformando noutra coisa, sem nunca perder o seu primeiro significado. O Ricardo tem andado a projetar uma equipa de trail para A Natureza Ensina e acabou por apontar baterias para o Trail da Costa Vicentina como um ensaio para a equipa. Assim, de um momento para o outro, o meu projeto pessoal estava a transformar-se num objetivo coletivo: fazermos uma boa prova na classificação por equipas.

Eu, o Ricardo e o Nelson constituíamos a equipa. Um dia antes da prova, o Ricardo pediu a alteração de inscrição do Nuno, para passar a integrar a equipa ANE. Na noite anterior verifiquei e constávamos os quatro como se pretendia.

Assim, depois de mais uma semana atribulada, na madrugada de dia 13 de outubro ali estava eu, moído por uma longa viagem, a desejar um pouco de descanso naquelas próximas horas, quando tivemos o primeiro desapontamento. O Nelson, que andava com problemas físicos nas duas últimas semanas, não se sentia em condições e decidiu não participar. Restava eu e o Nuno para nos juntarmos ao Ricardo e um único carro, que me obrigava à indesejada condução. No entanto, tínhamos três atletas, o que nos permitia participar na classificação coletiva. Era o mais importante.

O que dizer da prova? Partimos do Largo dos Caeiros em direção ao jardim e à sede do Sociedade Juventude Cercalense, atravessámos a rua onde vivia a “Tia Madalena” e dirigimo-nos para a “Rua Velha”, onde o meu pai e os meus tios cresceram. Depois de uma incursão pela zona circundante de quintas, onde rolámos excessivamente rápido, regressámos ao Cercal, que cruzámos aceleradamente em direção ao velho lavadouro e ao caminho que sempre chamámos “azinhaga”. Passámos ao lado do portão da quinta que foi da minha avó e seguimos para a zona da Mandorelha.

Ia em 13º num grupo de quatro atletas, quando deixei cair um gel e me pareceu ter deixado cair mais alguma coisa. A paragem deixou-me irremediavelmente atrasado. Continuei isolado, sempre apostado em tentar chegar-me a algum dos 12 da frente que estivesse mais para trás. Somente na zona da Cabeça da Cabra consegui apanhar o primeiro e um pouco mais à frente, já no caminho para a Ilha do Pessegueiro consegui ultrapassar um segundo, chegando ao 11º lugar. Foi glória efémera. Ainda antes de pousar os pés no areal do Pessegueiro, fui ultrapassado por dois outros atletas, que se haviam reservado para esta ponta final.

Lá estava eu a entrar pela praia da minha infância, sem qualquer tempo para a contemplar, atrás dos dois que galgavam o areal com as forças que eu já não tinha. Julgo que foi pouco mais do que um quilómetro, mas foi o bastante para ficar irremediavelmente atrasado. A areia da praia, muito mais solta do que aquela que encontrara na Costa da Caparica, deixou-me as pernas moídas. Ao sair do areal mal conseguia correr e o facto de partilharmos singletracks com os participantes no Trail Curto mais atrasados também não ajudava a recuperação. Por isso, restava-me reunir forças apenas para não perder posições.

Quem conhece o Trail da Costa Vicentina sabe que o final nos reserva uma descida até à Praia da Baía de Porto Covo, que precede a necessária subida até ao centro da vila. É aquele momento em que parece que os músculos já não respondem e que inevitavelmente teremos de ficar estáticos a meio da subida. É uma sensação pavorosa. Depois, lá em cima, parece que finalmente as pernas respondem ao cérebro e corremos, melhor ou pior, em direção à meta.

No fundo, sem ser um trail técnico, a passagem pelo areal acaba por fazer mossa e o 13º lugar final pareceu-me de ouro. O Ricardo terminou em 21º. Mas, infelizmente a organização acabou por não incluir o Nuno como nosso elemento e não contámos para a classificação coletiva. Uma situação inexplicável e frustrante, que veio manchar uma jornada que tinha sido bastante positiva. Veremos se haverá mais para o ano.

 

Classificações e vencedores:

Trail Longo: Rui Sequeira, 4:28:46 e Inês Peixoto, 6:07:11

Trail Médio: Carlos Papacinza, 1:41:05 e Inês Jordão (Monsanto Running Team), 2:01:17

Trail Curto: Fábio Silva (GDR S. Francisco da Serra), 57:50, e Filipa Vieira, 1:14:10

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publicado às 10:50


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